terça-feira, 9 de janeiro de 2018

Curva de Jellineck

As fases do alcoolismo ou Curva de Jellineck

Faz alguns anos que a Organização Mundial da Saúde publicou uma série de trabalhos científicos dedicados ao alcoolismo.
Um desses trabalhos, de autoria do professor Jellinek, dos Estados Unidos, estudando mais de duas mil histórias clínicas de alcoólicos, estabeleceu as seguintes fases do alcoolismo.

Primeira fase.

Primeiros sinais.
1. O bebedor habitual em perigo tem bebedeiras de quando em vez, das quais só desperta com recordação parcial do que ocorreu nesse tempo.
2. Bebe as escondidas. Sinal de má consciência. Esconde a garrafa no armário do banheiro ou no de roupa. Em uma reunião ou festa, bebe alguns copos sem que os outros vejam, para que não pensem mal dele.
3. Pensa ininterruptamente no álcool.
Sair do trabalho é uma ocasião para beber. Entrar no trabalho, também. Antes de comer, o aperitivo; depois de comer, uma taça. Pela tarde, um barzinho. Pela manhã, tem que beber para ajustar-se ao tom. Há sempre urna razão. Sempre pensa no álcool.
4. Bebe ansiosamente e bebe de uma só vez os primeiros copos.
5. Tem constantemente consciência de culpabilidade. Tem a sensação de estar fazendo algo mal, porém não pode deixar de fazê-lo.
6. Evita falar sobre o álcool. Crê que as pessoas se referem sempre ás suas bebedeiras. Não se lhe pode falar nada. Se mostra suscetível e preocupado com o que pensem a seu respeito.
7. Desperta de seus excessos com lacunas de memória, cada vez mais freqüentes e extensas. Não sabe onde e quanto tempo esteve na pândega na noite anterior.

Segunda fase.

Período crítico.
O costume se converte cada vez mais em tendência irresistível.
8. Perde o controle sobre si mesmo quando bebeu uma certa quantidade. Não pode parar. Basta, às vezes, uma quantidade mínima para desencadear uma bebedeira que dura vários dias.
9. O enfermo começa a inventar dezenas de explicações que objetivam se autojustificar e aos demais porque bebe. "Muito trabalho — desgostos". "Para se dar força" "Tem que beber em seus negócios com os amigos".
10. Recusa conselhos bem intencionados. "Eu mesmo sei melhor do que ninguém quando tenho que parar de beber'.
11. Dá uma de macho, através de muitas e fortes palavras. Para dissimular sua real insegurança. Fanfarreia.
12. Inicia-se o comportamento agressivo e colérico contra aqueles que o rodeiam, começando, em geral, pela família, pela mulher. Assim, pouco a pouco, se afasta e se isola da sociedade. Face sua agressividade, procura calar sua consciência.
13. De vez em quando, mostra um comportamento totalmente oposto. Chora, perde perdão por suas grosserias com grandes e teatrais gestos. A estas cenas, seguem períodos mais ou menos longos de total abstinência, obedecendo à pressão social da família e amigos.
14. Faz sempre desesperados esforços para viver durante semanas ou meses sem botar uma gota de álcool na boca. Ao cabo deste tempo, fracassa. Neste sentido rechaça, todavia, toda ajuda externa.
15. Para tentar controlar a bebida, muda o sistema de beber. Promete a si mesmo beber somente às tardes ou aos sábados. Raramente consegue ater-se às suas próprias regras.
16. Aparta de seus amigos. Não quer que controlem o seu comportamento.
17. Perde seu emprego porque o abandona ou porque o despedem.
18. Planeja toda sua conduta em torno do álcool. Busca, por exemplo, trabalhos breves, que lhe deem dinheiro suficiente para poder beber.
19. Perde o interesse e cuidado com suas roupas, higiene, etc.
20. O alcoólico interpreta todas as relações interpessoais a seu modo e em proveito próprio. Abusa das amizades, da família, etc. para que o ajudem a conseguir bebida, sem que ele esteja disposto a corresponder com fidelidade ou ajuda.
21. Tem a si mesmo como digno de compaixão. Sua bebida, pensa, é conseqüência de intrigas ou maquinações das pessoas.
22. Viaja ou vaga a pé sem rumo. Embriaga-se e aparece em qualquer lugar. Não sabe onde está e tem que ser levado para casa pela policia ou amigos.
23. Começa a desintegração familiar. Já não faz caso de sua família.
24. Põe-se de mal humor sem motivo. Quer atribuir aos outros as suas faltas.
25. Toma precauções para dispor sempre de bebida.
26. Come pouco e mal. Sobretudo, abandona as coisas que mais contêm vitaminas, como, por exemplo, verduras e frutas.
27. Como consequência desta falta de vitaminas e falsa nutrição enferma facilmente. A causa da enfermidade é atribuída a desgostos, aos "gases" no local de trabalho, etc. Sua verdadeira enfermidade pode, durante muito tempo, não ser reconhecida pelos médicos.
28. Sua potência sexual é reduzida ou desaparece totalmente.
29. Reage à sua impotência com o chamado delírio alcoólico de ciúmes, responsabilizando e atormentando a sua mulher por infidelidade.
30. Bebe regularmente pela manhã. Com frequência, seu único desjejum são suas bebidas. Não tem apetite.

Terceira fase.

Período crônico.
31. O doente passa dias inteiros bêbado.
32. Seu sentido moral desaparece. Perde o sentido da vergonha e do ridículo. Não distingue o bem do mal. Podem aparecer desvios criminosos ou delitos comuns.
33. A inteligência e o pensamento se tornam mais lentos e com numerosas deficiências.
34. Aparecem os primeiros sintomas, no princípio por certo tempo, de enfermidade mental. Ouve vozes, tem alucinações, pesadelos e medos infundados pela noite.
35. Bebe com qualquer um que dele se aproxime, começando o descenso de categoria social.
36. No caso de não dispor de outra coisa, bebe álcool de queimar, colônia ou loção de barba.
37. Digestões difíceis. Tudo lhe senta mal. Vômitos de bílis pela manhã. O fígado começa a falhar.
38. O alcoólico padece de crise de angústia ao longo de toda à noite.
39. Seus movimentos, sobretudo das mãos, são inseguros e trêmulos.
40. Determinados movimentos não podem ser realizados por aparecer paralisia em determinados nervos.
41. O alcoólico está possuído por sua ânsia de beber. E só uma sombra de sua personalidade anterior.
42. Já não tem, nem intenta, nos explicar seus atos. Já não pode opor-se àqueles que tentam ajudá-lo.

Ultima fase.
A derrota.

Dr. Agustín Jimeno Valdes - Chefe do Serviço de Reabilitação do Hospital Psiquiátrico de Navarra
(Publicado na Revista "EL MENSAJE" de novembro de 1973)

quinta-feira, 23 de julho de 2015

"DELIRIUM TREMENS"




A Síndrome de Abstinência Alcoólica corresponde às mudanças pelas quais o corpo passa quando uma pessoa subitamente deixa de beber depois de usar álcool de forma intensa e prolongada. Os sintomas incluem tremores, insônia, ansiedade e outros sintomas físicos e mentais.
O Álcool tem um efeito lentificador no cérebro (também chamado efeito sedativo ou efeito depressor). Em uma pessoa que bebe muito, a longo prazo, o cérebro é exposto quase continuamente ao efeito depressor do álcool.
Com o passar do tempo, o cérebro ajusta sua própria química para compensar este efeito. Ele faz isso através da produção de substâncias químicas naturalmente estimulantes (como a serotonina ou a noradrenalina - que são "parentes" da adrenalina) em quantidades maiores que as normais.
A forma mais perigosa de abstinência alcoólica acontece em uma em cada 20 pessoas que têm síndrome de abstinência. Esta condição é chamada Delirium Tremens. No Delirium Tremens, o cérebro não pode reajustar sua química lentamente depois que o uso álcool foi interrompido. Isto cria um estado de confusão temporária e leva a perigosas mudanças na maneira como o cérebro regula a circulação e a respiração.

Os sinais vitais do corpo como sua frequência cardíaca ou a pressão sanguínea podem mudar drasticamente, de forma imprevisível, levando ao risco de ataque do coração, derrame cerebral ou morte.
Quadro Clínico
Se o cérebro já está acostumado aos hábitos da pessoa que bebe muito, ele pode levar algum tempo para se ajustar novamente. A síndrome de abstinência ao álcool ocorre em um padrão previsível depois da última bebida alcoólica. Nem todos os sintomas se desenvolvem em todos os pacientes:

Tremores - Os tremores normalmente começam entre 5 e 10 horas após a última bebida e alcançam o máximo entre 24 e 48 horas. Junto com os tremores, pode haver taquicardia (pulso rápido), aumento da pressão sanguínea, respiração rápida, sudorese, náuseas, vômitos, ansiedade ou um estado de alerta hiperativo, irritabilidade, pesadelos, além de insônia.
Alucinações - Este sintoma normalmente começa dentro de 12 a 24 horas depois da última bebida, e pode durar até dois dias após ter começado. Se isto acontecer, a pessoa alucina (vê ou sente coisas que não são reais). É comum às pessoas que estão abstinentes do álcool verem múltiplos objetos pequenos, semelhantes, se movimentando. Às vezes a visão é de insetos rastejando, estrelinhas piscando ou moedas caindo. É possível que uma alucinação na abstinência alcoólica seja uma visão muito detalhada e imaginativa.
Ataques epiléticos da abstinência alcoólica - Ataques epiléticos podem acontecer de 6 a 48 horas após a última bebida, e é comum vários ataques epiléticos acontecerem por várias horas. O pico de risco é de 24 horas. Em geral eles são ataques epiléticos do tipo tônico-clônicos (como no mal epilético).
Delirium Tremens - O delirium tremens começa geralmente de dois a três dias depois da última bebida, mas pode demorar mais de uma semana para aparecer. Sua intensidade de pico normalmente alcança quatro a cinco dias da última bebida. Esta condição causa alterações perigosas na respiração, na circulação e no controle de temperatura. Pode fazer o coração bater muito rápido ou pode fazer a pressão sanguínea aumentar dramaticamente; e pode causar desidratação perigosa. O delirium tremens também pode reduzir temporariamente a quantidade de fluxo de sangue ao cérebro. Os sintomas podem incluir confusão mental, desorientação, estupor ou perda de consciência, comportamento agressivo, convicções irracionais, sudorese, perturbações do sono e alucinações.

Diagnóstico

A abstinência alcoólica é fácil de diagnosticar se a pessoa tiver sintomas típicos que aparecem depois que ela deixa de beber de forma "pesada", habitual. Se o paciente tiver uma experiência no passado de ter tido síndrome de abstinência, é provável que venha a devolver se novamente interromper a bebida subitamente. Não há nenhum exame específico que possa ser usado para diagnosticar a síndrome de abstinência alcoólica.

Se o paciente já teve outros episódios de síndrome de abstinência alcoólica, significa que ele já consumiu álcool o bastante para ter danificado outros órgãos. É preciso discutir com o médico sobre este problema para que ele possa examinar cuidadosamente a pessoa.
Ele irá solicitar exames de sangue para verificar o quanto o álcool causou lesão ao fígado, ao coração, aos nervos dos pés, às células do sangue, e ao trato gastrointestinal. Ele irá avaliar a dieta que o paciente habitualmente consome e irá checar as deficiências de vitamina que possam existir, pois a desnutrição é comum quando alguém é dependente do álcool.
Normalmente é difícil para as pessoas que bebem serem completamente honestas sobre o quanto elas têm bebido. É preciso que a pessoa informe a história do consumo de álcool para que ela assim possa ser tratada seguramente da síndrome de abstinência.

Prevenção

O alcoolismo é causado por muitos fatores. Se a pessoa tiver um irmão ou pai com alcoolismo, ela tem três a quatro vezes mais probabilidade de desenvolver o alcoolismo que a média da população. Algumas pessoas com histórias familiares de alcoolismo escolhem se privar de beber, pois desta forma garantem que o hábito não se desenvolva.  Muitas pessoas sem uma história familiar também desenvolvem alcoolismo. Se a pessoa tem se preocupado com a quantidade de bebida que tem consumido, ela deve conversar com seu médico.

Tratamento

Se a pessoa tiver vômitos severos, ataques epiléticos ou Delirium Tremens, o lugar mais seguro para ela ser tratada é em um hospital. Para o Delirium Tremens, o tratamento em uma Unidade de Cuidados Intensivos (UTI) é frequentemente indicado. Em uma UTI, a frequência cardíaca, a pressão sanguínea e a frequência respiratória serão monitoradas de perto no caso de ser necessário um suporte de vida de emergência (como respirar artificialmente por uma máquina).

A maioria das pessoas que consome muito álcool e que estão tendo síndrome de abstinência tem uma escassez de várias vitaminas e minerais e podem beneficiar de suplementos nutricionais. Em particular, o abuso do álcool pode criar uma escassez de folato, de tiamina, de vitamina B12, de magnésio, de zinco e de fosfato. O álcool também pode causar baixos níveis de açúcar no sangue.
Recomenda-se que um especialista (psiquiatra) ajude nos cuidados de uma pessoa que está com abstinência alcoólica.


* Fonte: www.alcoolismo.com.br

quarta-feira, 15 de julho de 2015

Sinais de Alcoolismo

Por Marcus Vinícius Santos


O Alcoolismo possui um forte poder de influência social e os alcoólicos tendem a evitar este estigma. Esta defesa natural para a preservação da autoestima acaba por proporcionar atrasos na intervenção terapêutica. Para iniciar o tratamento é necessário que o alcoólico mantenha a sua autoestima, mas sem negar a sua condição de alcoólico. As manifestações que comprovam que alguém é alcoólico podem começar com vômitos, dores abdominais, diarreia, gastrites, aumento do tamanho do fígado, tornando-se frequentes pequenas contusões e outros tipos de ferimentos. Para além destas, acontecem geralmente esquecimentos e aumento da suscetibilidade a infecções. Existem vários aspectos que podem induzir ao alcoolismo: para ficar desinibido sexualmente, para evitar a vida sexual, devido a transtornos de ansiedade, depressões, insônias, problemas no trabalho/família/outros, etc.
Ingestão de álcool pode variar segundo muitos fatores. Tendo como base os estudos de Fishman (1988) podem-se listar seis fatores que influenciam o consumo de álcool:

1. Contexto familiar e social: O ambiente onde vivemos pode influenciar. Os adolescentes tendem a imitar os pais, parentes, heróis da televisão, ídolos, etc. É comum um adolescente dizer que começou a beber, porque alguém que admira também o faz.
2. Curiosidade e experimentação: os adolescentes, e não só, tendem a ter a curiosidade de experimentar coisas novas.
3. Pressão. Muitos amigos e colegas de trabalho e escola tendem a pressionar, embora muitas vezes os próprios tomem a iniciativa por verem os amigos a consumir álcool.
4. Prazer. Muitas pessoas ingerem álcool apenas pela sensação agradável que tem no seu organismo.
5. Problemas emocionais. Muitas pessoas, principalmente adultos, costumam refugiar-se dos problemas, “afogando-se” no álcool.
6. Facilidade de acesso. Apesar da venda de bebidas alcoólicas ser proibida a menores de 16 anos, muitos jovens conseguem fácil acesso. Também pelo preço, pois algumas bebidas alcoólicas podem chegar a ser mais baratas do que um refrigerante. 

Não há nenhum modo absoluto de se prevenir o alcoolismo. Porém, o forte apoio da família e as relações sólidas com pessoas que não bebem e os amigos, podem ajudar. De forma geral, para qualquer tipo de vício, o importante é nunca começar a utilizar a droga causadora da dependência em questão e, no caso do alcoolismo, esta afirmativa é muito mais importante para aqueles indivíduos que têm histórico de outros familiares portadores da doença, já que a questão da hereditariedade influi em uma maior facilidade em se adquirir o alcoolismo ou síndrome de dependência do álcool.

quarta-feira, 2 de abril de 2014

Terapias Utilizadas No Tratamento do Alcoolismo



  • Por Marcus Vinícius Santos

(1) “Terapia Comportamental” (Behavioral Therapy ) – Baseia-se nos princípios do condicionamento clássico e operante – recompensa e punição de comportamentos considerados
apropriados ou inapropriados, respectivamente –, afirma que o uso de droga é um comportamento aprendido pelo indivíduo em seu contexto. Por isso, o cerne da intervenção resume-se em primeiro, identificar os comportamentos que instigam o uso de drogas; em segundo lugar, prover o indivíduo de habilidades que rompam tal ciclo de conduta e, em terceiro, propiciar-lhe formas de lidar com situações propensas à recaída. Os pais aprendem esses princípios terapêuticos através de um treinamento sobre o gerenciamento e monitoramento parental de forma a utilizá-los com o adicto.

(2) Terapia Comportamental Cognitiva” (Cognitive Behavioral Therapy – CBT - No Brasil TCC) – Esta intervenção expande os princípios da terapia comportamental, ao reconhecer a influência de elementos  cognitivos tais como: o processamento da informação, a aprendizagem social,e os estágios de desenvolvimento para a formação do indivíduo. O tratamento foca as interações entre os fatores comportamental, cognitivo, social e do desenvolvimento, visando a mudanças nas percepções e crenças e no comportamento do indivíduo. O uso de drogas é aqui entendido como funcionalmente relacionado aos problemas da vida do indivíduo e influenciado, por sua vez, pelos fatores sociais e cognitivos. O objetivo desta terapia é auxiliar no reconhecimento de situações que podem levá-lo ao uso de drogas; evitá-las mediante habilidades construídas e lidar com problemas associados a elas.

(3) “Terapia Motivacional” (Motivational Therapy)  – Pretende auxiliar o indivíduo, de forma empática, a se movimentar pelos estágios de mudança que são os seguintes: pré-contemplação, em que a pessoa não reconhece ter problemas com drogas; contemplação , momento de ambivalência com relação às razões para a mudança; preparação , onde há um aumento do compromisso com a transformação; ação onde o indivíduo para de usar drogas; e manutenção , em que ele desenvolve um estilo de vida que evita a recaída. 

(4) “Intervenções Farmacológicas” (Pharmacotherapy) – são usadas principalmente com adultos no tratamento de sintomas graves de dependência a drogas. Com adolescentes, podem ser utilizadas para a desintoxicação e tratamento de co-morbidade. 

(5) “Terapia dos 12 Passos” (Twelve-Steps Approaches) – também conhecida como o “Modelo Minnesota” (Minnesota Model). Os Alcoólicos Anônimos (AA) e os Narcóticos Anônimos (NA) concebem a adicção como uma doença progressiva e crônica, caracterizada pela negação e pela perda de controle. A espiritualidade é um elemento chave nesses tratamentos. Pede-se aos participantes que aceitem, com humildade, o fato de terem perdido a batalha do controle sobre as drogas e se rendam ao Poder Superior. A ideologia dos 12 passos prega que a recuperação só é possível através do reconhecimento individual de que as drogas são um problema e da admissão da falta de controle sobre seu uso. As terapias dos 12 passos são utilizadas por adolescentes e adultos como complemento de tratamentos diversos. Entretanto, a filosofia que as fundamenta vai de encontro ao adulto. Pedir que o adulto aceite e renuncie em favor de um Poder Superior, num momento em que ele desenvolve sua identidade e poder pessoal.

(6) A abordagem comportamental intitulada “Terapia de Rede” (Network Therapy – NT), que também considera a família como um grupo que atua como substrato para a mudança mas não como co-geradora do comportamento adictivo, encontra-se no meio do caminho entre um método de engajamento do adicto no tratamento e o tratamento propriamente dito. Propõe-se a enfocar a intervenção que se vale do apoio da família e dos amigos e pode ser administrada em ambulatório tendo, como objetivo primeiro, a abstinência. O termo “Rede” vem do trabalho de Speck & Attneave  que utilizaram um amplo grupo de apoio da rede familiar e social dos pacientes como mediadores para o manejo psiquiátrico. Estudos experimentais atestam a eficácia da NT.

(7) “Intervenções Multi-Sistêmicas e Baseadas na Família” (Family-based and Multi-Systemic Interventions) – tais intervenções contextualizam o adolescente em sua família e na sociedade – seus pares, escola, comunidade – partindo do princípio de que as relações do adolescente com esses contextos podem ser saudáveis ou adoecidas, no último caso, facilitadoras do uso de drogas. Tais tratamentos têm como base as relações disfuncionais do indivíduo com qualquer um desses sistemas, de forma que a terapia terá, necessariamente, que envolver pessoas desses variados universos. Consideram que a dinâmica destas relações influencia seus pensamentos e suas percepções, contribuindo, então, para a formação de padrões de comportamentos. Reconhecem a influência crítica que o sistema familiar do adolescente tem no desenvolvimento e na manutenção de problemas de abuso de drogas.

Merecem destaque, neste conjunto de propostas, as diversas formas de terapia de família, consideradas essenciais para a abordagem da drogadição. O método de intervenção varia de acordo com a orientação teórica do terapeuta. Mas a maior parte delas vem da teoria sistêmica , em que a ênfase é dada à natureza relacional e contextual do comportamento humano. Nessa perspectiva, o funcionamento do indivíduo está reciprocamente interconectado ao dos outros indivíduos que compõem o seu primeiro contexto relacional: a família. Essa abordagem considera o comportamento como um sintoma da disfunção familiar, uma vez que o comportamento individual ocorre e adquire o seu significado no contexto dessa micro-instituição. A adicção é entendida como um conjunto de comportamentos desajustados que refletem problemas do sistema familiar como um todo


Todas as abordagens comportamentais consideram o abuso de substância como um comportamento aprendido, suscetível de alteração através de intervenções sobre o comportamento.