segunda-feira, 4 de novembro de 2013

Cerveja "SEM" Alcool - Um Perigo


White, J. M., & Staiger, P. K. (1991). Response to alcohol cues as a function of consumption level. Drug Alcohol Depend, 27(2), 191-195. 

"A cerveja sem álcool (embora algumas delas contenham pequenas quantidades de etanol) tem sido associada com esses estímulos que facilitam as recaídas entre dependentes de álcool, seja pelo sabor, pelo cheiro ou pela situação. Alguns estudos têm mostrado que, entre bebedores pesados, o consumo de cerveja sem álcool (também conhecida como “cerveja placebo”) pode disparar o desejo de beber"
Fatores de alto risco são aquelas situações nas quais os indivíduos dependentes costumavam fazer uso da substância nos tempos de “consumo ativo”. Esses fatores tipicamente envolvem situações interpessoais (participação nas mesmas festas, nos mesmos encontros com os mesmos amigos da época das bebedeiras, pressão do grupo, por exemplo) e intrapessoais (ansiedade, frustração, fissura, por exemplo). Comumente, essas situações se misturam em uma combinação preocupante.
Várias pesquisas demonstram que os indivíduos dependentes de álcool demonstram aumento da fissura pela bebida, quando são expostos a certos estímulos ambientais relacionados com o consumo anterior. Esses estímulos, tais como o cheiro da bebida ou mesmo a visão da mesma, podem disparar a vontade de beber que se torna evidente através do surgimento de ansiedade e do aumento de pensamentos envolvendo a ingestão do álcool.
Advertência de A.A
A advertência fornecida pelos grupos de Alcoólicos Anônimos (A.A) e outros grupos de mútua-ajuda (Narcóticos Anônimos, por exemplo) de “evitar pessoas, locais e objetos associados com o consumo das substâncias” foi desenvolvida como uma forma de minimizar a exposição a estímulos que despertam a fissura.
Uma sugestão prática tem sido encorajar os indivíduos dependentes a remover de suas casas quaisquer substâncias e parafernálias relacionadas ao consumo da substância abusada.
Nós sabemos que é impossível evitar todos os estímulos relacionados ao consumo anterior de bebida. No entanto, evitar situações de maior risco é possível e depende diretamente da contribuição de cada paciente e dos seus pares.
Da mesma forma, como os alcoolistas consistem em uma população bastante heterogênea, as orientações terapêuticas deverão ser adequadamente individualizadas, baseadas no mapeamento das situações de risco de cada paciente. Daí a necessidade desses indivíduos participarem efetivamente de uma adequada abordagem terapêutica.
Perigo da cerveja sem álcool
A cerveja sem álcool (embora algumas delas contenham pequenas quantidades de etanol) tem sido associada com esses estímulos que facilitam as recaídas entre dependentes de álcool, seja pelo sabor, pelo cheiro ou pela situação. Alguns estudos têm mostrado que, entre bebedores pesados, o consumo de cerveja sem álcool (também conhecida como “cerveja placebo”) pode disparar o desejo de beber.
Na prática clínica diária, tenho recomendado a pacientes dependentes de álcool a não utilização de cerveja, vinho sem álcool ou quaisquer tipos de ‘bebidas placebo’, para evitar o desencadeamento da fissura e consequentemente a recaída. Alguns pacientes que não seguem essa recomendação acabam por apresentar recaídas no consumo de álcool, de fato.
O segredo do sucesso terapêutico é desenvolver habilidades sociais ou interpessoais que não envolvam o consumo de bebidas alcoólicas ou mesmo de ‘bebidas placebo’. Isso, na realidade, é possível dentro de um contexto terapêutico, embora bastante difícil para alguns indivíduos.
O tratamento de pacientes dependentes de álcool é bastante complexo e deve ser adequadamente individualizado, tendo em vista a heterogeneidade da população de dependentes.

Ainda existe a necessidade científica de averiguar adequadamente o papel da cerveja sem álcool ou cerveja placebo entre diferentes tipos de alcoolistas. No entanto, no momento atual, recomendo a não utilização das mesmas pelos indivíduos dependentes de álcool em tratamento para promoção de abstinência.

White, J. M., & Staiger, P. K. (1991). Response to alcohol cues as a function of consumption level. Drug Alcohol Depend, 27(2), 191-195.