quarta-feira, 2 de abril de 2014

Terapias Utilizadas No Tratamento do Alcoolismo



  • Por Marcus Vinícius Santos

(1) “Terapia Comportamental” (Behavioral Therapy ) – Baseia-se nos princípios do condicionamento clássico e operante – recompensa e punição de comportamentos considerados
apropriados ou inapropriados, respectivamente –, afirma que o uso de droga é um comportamento aprendido pelo indivíduo em seu contexto. Por isso, o cerne da intervenção resume-se em primeiro, identificar os comportamentos que instigam o uso de drogas; em segundo lugar, prover o indivíduo de habilidades que rompam tal ciclo de conduta e, em terceiro, propiciar-lhe formas de lidar com situações propensas à recaída. Os pais aprendem esses princípios terapêuticos através de um treinamento sobre o gerenciamento e monitoramento parental de forma a utilizá-los com o adicto.

(2) Terapia Comportamental Cognitiva” (Cognitive Behavioral Therapy – CBT - No Brasil TCC) – Esta intervenção expande os princípios da terapia comportamental, ao reconhecer a influência de elementos  cognitivos tais como: o processamento da informação, a aprendizagem social,e os estágios de desenvolvimento para a formação do indivíduo. O tratamento foca as interações entre os fatores comportamental, cognitivo, social e do desenvolvimento, visando a mudanças nas percepções e crenças e no comportamento do indivíduo. O uso de drogas é aqui entendido como funcionalmente relacionado aos problemas da vida do indivíduo e influenciado, por sua vez, pelos fatores sociais e cognitivos. O objetivo desta terapia é auxiliar no reconhecimento de situações que podem levá-lo ao uso de drogas; evitá-las mediante habilidades construídas e lidar com problemas associados a elas.

(3) “Terapia Motivacional” (Motivational Therapy)  – Pretende auxiliar o indivíduo, de forma empática, a se movimentar pelos estágios de mudança que são os seguintes: pré-contemplação, em que a pessoa não reconhece ter problemas com drogas; contemplação , momento de ambivalência com relação às razões para a mudança; preparação , onde há um aumento do compromisso com a transformação; ação onde o indivíduo para de usar drogas; e manutenção , em que ele desenvolve um estilo de vida que evita a recaída. 

(4) “Intervenções Farmacológicas” (Pharmacotherapy) – são usadas principalmente com adultos no tratamento de sintomas graves de dependência a drogas. Com adolescentes, podem ser utilizadas para a desintoxicação e tratamento de co-morbidade. 

(5) “Terapia dos 12 Passos” (Twelve-Steps Approaches) – também conhecida como o “Modelo Minnesota” (Minnesota Model). Os Alcoólicos Anônimos (AA) e os Narcóticos Anônimos (NA) concebem a adicção como uma doença progressiva e crônica, caracterizada pela negação e pela perda de controle. A espiritualidade é um elemento chave nesses tratamentos. Pede-se aos participantes que aceitem, com humildade, o fato de terem perdido a batalha do controle sobre as drogas e se rendam ao Poder Superior. A ideologia dos 12 passos prega que a recuperação só é possível através do reconhecimento individual de que as drogas são um problema e da admissão da falta de controle sobre seu uso. As terapias dos 12 passos são utilizadas por adolescentes e adultos como complemento de tratamentos diversos. Entretanto, a filosofia que as fundamenta vai de encontro ao adulto. Pedir que o adulto aceite e renuncie em favor de um Poder Superior, num momento em que ele desenvolve sua identidade e poder pessoal.

(6) A abordagem comportamental intitulada “Terapia de Rede” (Network Therapy – NT), que também considera a família como um grupo que atua como substrato para a mudança mas não como co-geradora do comportamento adictivo, encontra-se no meio do caminho entre um método de engajamento do adicto no tratamento e o tratamento propriamente dito. Propõe-se a enfocar a intervenção que se vale do apoio da família e dos amigos e pode ser administrada em ambulatório tendo, como objetivo primeiro, a abstinência. O termo “Rede” vem do trabalho de Speck & Attneave  que utilizaram um amplo grupo de apoio da rede familiar e social dos pacientes como mediadores para o manejo psiquiátrico. Estudos experimentais atestam a eficácia da NT.

(7) “Intervenções Multi-Sistêmicas e Baseadas na Família” (Family-based and Multi-Systemic Interventions) – tais intervenções contextualizam o adolescente em sua família e na sociedade – seus pares, escola, comunidade – partindo do princípio de que as relações do adolescente com esses contextos podem ser saudáveis ou adoecidas, no último caso, facilitadoras do uso de drogas. Tais tratamentos têm como base as relações disfuncionais do indivíduo com qualquer um desses sistemas, de forma que a terapia terá, necessariamente, que envolver pessoas desses variados universos. Consideram que a dinâmica destas relações influencia seus pensamentos e suas percepções, contribuindo, então, para a formação de padrões de comportamentos. Reconhecem a influência crítica que o sistema familiar do adolescente tem no desenvolvimento e na manutenção de problemas de abuso de drogas.

Merecem destaque, neste conjunto de propostas, as diversas formas de terapia de família, consideradas essenciais para a abordagem da drogadição. O método de intervenção varia de acordo com a orientação teórica do terapeuta. Mas a maior parte delas vem da teoria sistêmica , em que a ênfase é dada à natureza relacional e contextual do comportamento humano. Nessa perspectiva, o funcionamento do indivíduo está reciprocamente interconectado ao dos outros indivíduos que compõem o seu primeiro contexto relacional: a família. Essa abordagem considera o comportamento como um sintoma da disfunção familiar, uma vez que o comportamento individual ocorre e adquire o seu significado no contexto dessa micro-instituição. A adicção é entendida como um conjunto de comportamentos desajustados que refletem problemas do sistema familiar como um todo


Todas as abordagens comportamentais consideram o abuso de substância como um comportamento aprendido, suscetível de alteração através de intervenções sobre o comportamento.