quarta-feira, 17 de julho de 2013

A Familia Disfuncional do Alcoolico



            Pretendo transmitir a visão que tenho da máxima importância de Al-Anon e de Al-Ateen. De início, ressalto uma dificuldade que me parece muito grande diante do nível cultural do nosso país.
            Não é difícil argumentar em favor do fato de que o alcoolismo é uma doença. Todos sabem que, quando um membro da família se torna um alcoólico, a família resulta tão ou mais doente que o próprio alcoólico, mas é difícil transmitir a idéia de uma família doente, de uma família disfuncional. A pessoa doente é objeto de fácil observação. É fácil conceber o que seja um indivíduo doente, mas como identificar uma família doente, como “ver” a sua doença? Por outro lado, a sociedade em que vivemos já está conscientizada para o problema do uso do álcool e para a gravidade do alcoolismo, mas ainda não pensou o suficiente na família e, em particular, nas crianças que vivem num lar alcoólico.
            É fato que a família disfuncional não é apenas a que resulta da existência de um cônjuge alcoólico. Ela pode ser a consequência do uso de outras drogas que não o álcool ou ainda de outras compulsões como para a comida ou para o jogo e até mesmo resultar da presença de um cônjuge portador de doenças crônicas ou, ainda, do fato de um dos membros da família ser um fanático religioso. Isso pode complicar ainda mais as coisas, mas, pelo menos, tira a exclusividade do álcool.
            É sabido que o alcoólico, além de ser vítima da própria doença, afeta as pessoas que o cercam, especialmente as que estão mais próximas, como é o caso dos membros da família. Isso é evidente a partir da observação do comportamento familiar do alcoólico. Mas não menos importantes são as consequências resultantes do afastamento dos amigos ou da perda do emprego. Quase sempre, a família não reage adequadamente, não se adapta e não se estrutura diante da situação, ficando incapaz de ajudar a si mesma e ao doente alcoólico. Em consequência, torna-se também doente.
            A família é um sistema em que cada membro desempenha um papel em relação a todos os outros e, quando o álcool causa mudanças no comportamento de um dos membros, isso afeta também cada um membro da família. O equilíbrio é rompido porque o foco das atenções se desloca para o dependente e todos os familiares passam a compartilhar de comportamentos doentios porque todos eles fazem parte do mesmo sistema.
            Em realidade, as pessoas que convivem com o dependente se tornam codependentes. A codependência, um termo relativamente novo, é tanto um conceito válido do ponto de vista psicológico como se refere a um importante distúrbio do comportamento humano. Ser codependente significa participar da dependência. É uma condição emocional, psicológica e comportamental que resulta da exposição prolongada e da prática de um conjunto de regras opressivas que inibem não só a expressão livre dos sentimentos como também a discussão de problemas pessoais e interpessoais. Uma pessoa codependente é a que permite que o comportamento de uma outra pessoa a afete e também tem o seu comportamento afetado pela tentativa de controlar o comportamento do dependente.
            O que se observa é um quadro em que se identificam vítimas de vítimas. A família é vítima do seu membro alcoólico e ele, vítima da sua doença. Mas as coisas não ficam por aí, pois sabemos que o alcoolismo, freqüentemente, segue a linha da família, se instala na árvore genealógica porque, além de os filhos poderem gerar, no futuro, outras famílias disfuncionais, como conseqüência das suas personalidades mal estruturadas, também é fato de observação que os filhos de alcoólicos têm um risco três vezes maior de desenvolverem o alcoolismo. Parece haver uma tendência para que os filhos de pais alcoólicos se casem com alcoólicos, sem que disso tenham consciência.
            Essas considerações colocam em destaque o trabalho de Al-Anon e de Alateen no sentido de interromper um ciclo continuado de dor, de infelicidade e de sofrimento que tende a se estender por gerações evitando, desse modo, a ampliação do número de vítimas.
            Vamos agora analisar uma foto colorida de uma família disfuncional, de um alcoólico na ativa para melhor observar e poder apreciar uma maior riqueza de detalhes. Vamos ver como aparecem cada um dos seus integrantes.

O ALCOÓLICO
01.   É egocêntrico,
02.   Nega o alcoolismo e as suas manifestações,
03.   Racionaliza, numa tentativa de tudo explicar e justificar,
04.   É grandioso nos seus projetos e idéias,
05.   É emocionalmente imaturo,
06.   Apresenta baixa auto-estima,
07.   Tem sentimento de isolamento,
08.   Tem sentimento de culpa e de vergonha,
09.   É dependente,
10.   É perfeccionista,
11.   É inábil em expressar as suas emoções.

O NÃO ALCOÓLICO
01.   Usa a negação,
02.   Vive em aborrecimento contínuo,
03.   Mente,
04.   Tem medo,
05.   Tem raiva,
06.   Sente-se culpado,
07.   Sofre de desapontamento,
08.   Está mergulhado em confusão mental,
09.   Tem pena e protege o bebedor,
10.   Sofre desesperança,
11.   Tem autopiedade,
12.   Sente desânimo,
13.   Sente desespero,
14.   Apresenta mudanças no relacionamento: a. tende à dominação,
      b. tende a assumir o controle da família,
      c. tende a adotar atividades isoladas e absorventes
          (atividades solitárias que prendem a sua atenção).
15.   Tem problemas sexuais,
16.   Sofre de ansiedade.

OS FILHOS
            Vamos estudar esse ambiente de tensão e ansiedade e identificar algumas das suas manifestações em relação aos filhos e ao seu comportamento na vida futura.
            Embora isso seja traumatizante, é muito importante ter conhecimento do ocorre numa família disfuncional porque a verdade liberta e, a partir dela, podem-se desenvolver comportamentos para mudar as coisas e não permanecer apenas como vítimas. A partir desse entendimento, será possível controlar os pensamentos, sentimentos e desejos, fazer uma opção mais sensata e escolher o caminho certo ao longo da vida e não apenas ficar sendo empurrados e arrastados por seus sentimentos e impulsos ou pela vontade dos outros. O controle da situação trará a serenidade e a sensação de conforto.
            Voltemos a apreciar a foto da família e olhar para os filhos procurando, como normalmente se faz, ver neles os traços dos pais. Não é difícil encontrar esses traços comportamentais uma vez que os pais são sempre modelos de desenvolvimento para os filhos que os capacitam para lidar com os seus problemas íntimos e para desenvolver a auto-estima e o sentimento de segurança.
            Mas, na foto, vemos que são crianças diferentes: têm olhos tristes e o semblante preocupado e, se tivéssemos um filme em vez de uma foto, veríamos que não possuem a espontaneidade das outras crianças. Compreende-se por que se apresentam assim, pois as suas vidas são cheias de problemas e eles estão sempre dentro deles. Em realidade, não se sentem como crianças e nem mesmo sabem o que é ser criança.

A VIDA DOS FILHOS DE PAI OU MÃE ALCOÓLICO, NO LAR.
1.       As famílias e as pessoas são diferentes, mas o que acontece nos lares dos alcoólicos não é muito diferente uns dos outros.
2.       Cada criança reage a seu modo, mas as experiências que têm são mais ou menos as mesmas.
3.       O ambiente é sempre de tensão e de ansiedade.
4.       Ao abrir a porta de casa, nunca sabem o que vão encontrar ou o que está por acontecer. Ou seja, nunca estão preparadas para enfrentar os problemas.
5.       O pai, quando não alcoolizado, é bom e amável, interessado e atencioso e as promessas que fazem são verdadeiras. Quando alcoolizado, as promessas são esquecidas, há conflito, ansiedade e confusão e as crianças ficam no meio da briga. Sentem que talvez, se não existissem, os pais não brigariam e aí vem o sentimento de culpa.
6.       A mãe é irritadiça e cansada, como se o mundo pesasse nas suas costas. A criança, às vezes, até prefere o pai, mesmo sendo ele um alcoólico.
7.       Se a mãe é a alcoólica, o pai já pode ter abandonado a família. Se não, vem na hora do almoço para fazer o trabalho que não era seu. Os papeis de cada um dos membros da família ficavam confusos.
8.       A filha faz o que era para a mãe fazer, realiza as tarefas da casa, toma conta dos irmãos, etc, ou seja, é a mãe da mãe. Resulta que tudo fica muito confuso. Qual o verdadeiro papel de cada membro da família? Quando a mãe fica sóbria, a filha sente remorso. Sente pena da mãe pelo esforço que faz para ficar sóbria. Qual o seu verdadeiro papel?
9.       Quando ambos os pais são alcoólicos, a vida se torna totalmente imprevisível. O lar é um inferno. Ninguém diz uma palavra. O ambiente é tenso. O nervosismo e a raiva estão no ar.
10.   Sonham. Vivem num mundo de fantasia. Pensam em ir embora. Perguntam-se quando acabaria isso? Mas nenhuma das duas coisas acontece. Se a criança sai, fica preocupada com o que possa estar acontecendo e procurava voltar logo para casa.
11.   Aprendem a guardar os seus sentimentos. As outras pessoas não podem saber o que se passa dentro das suas casas.
12.   São crianças quietas. Fazem as coisas certas. São elogiadas. Mas são também amarradas emocionalmente. Não têm espontaneidade.

A VIDA DO FILHO/A DE PAI OU MÃE ALCOÓLICO NA ESCOLA
1.       A vida miserável dos filhos se reflete na escola.
2.       São quietos, responsáveis e podem ter notas altas e serem elogiados. Mas não são notados, eram como que invisíveis. Preferiam até ser o palhaço da turma, ser alegres e espontâneos, sem se levar tanto a sério.
3.       Às vezes, tinham um mau desempenho. Iam bem num semestre e mal no outro. Se inteligentes, aprendiam, e pior, aprendiam inclusive a manipular os outros.
4.       Um filho de pai alcoólico, em recuperação no AA, ia ser reprovado na escola porque faltava às aulas. Considerou, diante do fato, três diferentes possibilidades: 1. Reagiria como o pai, nos velhos tempos, e diria ao professor que ele não podia fazer isso, que não tinha esse direito; quem pensava ele que era? E faria queixa ao diretor da escola. 2. Iria à casa do professor, se atiraria aos seus pés e beijaria o seu anel (manipulação). 3. Já tendo trabalhado a si mesmo, pensou que o melhor seria marcar uma entrevista e ver o que se podia fazer para realizar o trabalho. Já tinha aprendido a ser responsável. Na primeira hipótese, se continuasse agressivo, seria reprovado e ainda se sentiria vítima, resultando que ficaria ainda mais ressentido. Poderia adotar comportamentos anti-sociais que, por seu turno, poderiam levá-lo a uma instituição penal. A segunda hipótese traria um sucesso temporário sendo bom artista, enganador e manipulador; mas isso não funcionara para sempre e leva a uma percepção distorcida da realidade. Não saberia o que o havia derrotado quando a farsa terminasse. A terceira hipótese foi considerada a mais adequada porque daria uma sensação de orgulho, qualquer que fosse o resultado e traria o respeito por si mesmo.
5.       Apresenta falta de concentração. Vive em fantasias. Tem preocupação com a casa. Está sempre sonhando e não prestando atenção à aula. Não dorme bem à noite por causa dos conflitos. Se tudo é tão ruim, que diferença faz estudar ou não? Afinal, ninguém se importa se vai mal ou bem. Não adianta pedir ajuda. Os pais prometem e não cumprem. Não têm tempo para as crianças.
6.       Se pede ajuda ao professor, poderia ocorrer que ele perguntasse se tudo vai bem e aí tinha que negar e dizer que tudo ia bem, e não ia. Tem que guardar para si os seus sentimentos.
7.       A escola é um problema, um lugar que apenas tem que ir.

RELACIONAMENTOS COM OS AMIGOS
1.       Brincam, mas não são iguais às outras crianças.
2.       Têm dificuldade em fazer amigos. Quem gostaria deles, afinal? Não se sentem amados. Pensam que são pessoas sem valor. Têm medo de que as outras crianças saibam de alguma coisa acerca da vida delas. Se vão brincar na casa de amigos, ficam na obrigação de convidá-los um dia para também ir à sua e os amigos poderiam encontrar o pai deitado no chão. A mãe daria uma explicação, mas o fato é que os amigos não voltariam mais. Falta espontaneidade. É melhor ficar longe das outras crianças.  Às vezes, aceitam um tratamento inadequado e desagradável, pois precisam manter os poucos amigos. São incapazes de aprender a fazer amigos.
3.       Seria bom ficar na escola e brincar, mas precisam voltar para casa porque estão preocupados com o que pode estar acontecendo. Os sentimentos são contraditórios, querem fugir de casa, mas precisam sempre voltar.

O PROBLEMA DA AUTO-ESTIMA DOS FILHOS
1.       Ter auto-estima é sentir-se como tendo valor. Todas as pessoas dependem do que os outros dizem, pois internalizam as mensagens. No lar, as mensagens têm duplo sentido. Afinal, o que é verdade? Dizem: você não faz as coisas direito e, depois afirmam que precisam deles. “Tudo vai bem, não se preocupe”, e depois dizem, “como posso agüentar isso?”. “Fale sempre a verdade” e depois dizem: “eu não quero saber”. O perfeccionismo do alcoólico o faz achar defeito em tudo. Há promessas não cumpridas, mentiras e problemas. A promessa do passeio de fim de semana, do vestido novo de presente e do jantar juntos acaba em nada. Pensam que mais tarde vai dar certo e o mais tarde nunca chegava. Recebiam como resposta o simples “esquece”. O que era real?
2.       Começam a mentir automaticamente.
3.       A dupla mensagem faz perder a visão de si mesmas.
4.       No fundo, sentem que os pais as amam. O álcool não destrói o amor, que parece distorcido, mas é real.

REFLEXOS NA VIDA FUTURA
1.       Precisam saber o que é normal. Usualmente, são preocupados e não sabem o que é apropriado numa determinada situação. Não têm certeza das coisas. Não têm liberdade para perguntar. Não querem parecer bobos. A vida era uma loucura. Os dias são caóticos. Os dias normais são atípicos. Vivem num mundo de fantasia, no mundo do "se", mas que, por outro lado, ajuda a sobreviver. Não têm um padrão de referência do que seria um lar normal. Vivem pisando em ovos, reprimidos. Mais tarde, quando têm filhos, apresentam dificuldade em avaliá-los. Não sabem o que é ser adolescente, por exemplo, porque nunca viveram as suas idades. O que lhes pode parecer anormal, eventualmente, não é. Não se encaixam inteiramente no papel de pais. O que é normal?
2.       Têm dificuldade para levar até o final as suas tarefas, os seus projetos. Em casa, as promessas não eram cumpridas, a casa da boneca prometida nunca se transformava em realidade; prometiam fazer isso e aquilo e não saia nada. O alcoólico quer crédito por ter tido uma idéia ou uma intenção, embora fique só nisso. A comentada pintura da sala não acontecia. As idéias eram maravilhosas, mas não se transformavam em realidade. Às vezes, tanto tempo se passava que a idéia inicial era esquecida. Ninguém ajudava a fazer as coisas e a família não era uma equipe.
3.       Mentem quando seria mais fácil dizer a verdade. Na família do alcoólico é comum mentir para negar as realidades desagradáveis, para acobertar. É comum fazer promessas que não serão cumpridas. Há inconsistências. Não são mentiras, propriamente, mas são coisas que se afastam da verdade. Aprendem a mentir e, depois, a usar a mentira. Dizia que o trabalho da escola estava pronto e ia brincar, e não estava. Diga a verdade, a verdade é uma virtude, mas as coisas não eram assim e a verdade era sem significação e a mentira era um hábito.
4.       Julgam a si mesmas com muita severidade. As crianças eram sempre criticadas. Nunca faziam as coisas certas. Não havia padrões de perfeição. A criança se sentia deficiente. Tinha uma auto-estima negativa. Diante da crítica, a solução era se empenhar mais, cada vez mais, fazer sempre melhor. Se algo saia errado era porque tinham falhado em algo. Se dava certo, era mérito dos outros e se era mesmo delas o mérito, diziam, "isso não tem maior importância". Isso não é humildade e sim distorção da realidade. Era preciso manter a auto-imagem negativa porque estavam acostumadas a ela.
5.       Têm dificuldade em se divertir. Levam muito a sério a si mesmas. Os filhos dos alcoólicos não se divertem porque a sua vida é um "trauma contínuo". A vida é séria e amarga. Os pais não riem, não brincam, não se divertem. Não aprendem a brincar com os outros. No lar, não há lugar para brincadeiras distraídas. As crianças não são espontâneas e descontraídas.
6.       Têm dificuldades em fazer relações íntimas. Não possuem padrões de referência para o que seja um relacionamento íntimo saudável. Tornam-se próximos e depois se afastam. Há inconsistência no relacionamento pai/mãe/filhos. Amados num dia e rejeitados no outro. A rejeição e o medo de serem abandonadas levava à falta de confiança e à sensação de não serem dignas de receber amor. Não se sentem boas pessoas. Há em casa um sentimento de urgência. Os momentos de felicidade são fugazes. Se há uma promessa e ela não é cumprida logo, aí as coisas nunca mais acontecem. As coisas não fluem normalmente. Os membros da família não se conhecem bem, não descobrem os seus sentimentos e as suas atitudes.
7.       Reagem intensamente em relação a mudanças sobre as quais não têm controle. Para sobreviverem, sentem que têm que ter controle sobre o ambiente. Não podem confiar no julgamento das outras pessoas do seu lar. Se não ficarem atentas, as coisas podem mudar de repente e isso é igual a perder o controle das suas vidas. São rígidas e sem espontaneidade.
8.       Sentem-se diferentes dos outros, e realmente são. Sentem-se desconfortáveis, mesmo nos ambientes confortáveis. Sentem-se diferentes desde a infância. Estão sempre preocupadas. Não estão à vontade quando brincam. A socialização é difícil. São diferentes e isoladas.
9.       São usualmente super-responsáveis ou superirresponsáveis. Empenham-se em ser sempre melhor e melhor e isso, às vezes, não adianta. Por vezes, em face das críticas, não se empenham mais. É tudo ou nada. Na família um não coopera com o outro, não se sentem fazendo parte de um projeto, colaborando para um fim, do que resultava em fazer tudo sozinha ou não fazer nada.
10.   São muito leais, ainda quando a lealdade não é merecida. O lar de um alcoólico parece ser um lugar de lealdade, mas que resulta mais do medo e da insegurança.
11.   São impulsivos. Não identificam alternativas e não avaliam as conseqüências dos seus atos. O resultado é uma perda do controle do meio ambiente que leva a uma confusão que depois dá muito trabalho para arrumar. Tudo isso é muito alcoólico. As idéias são do tipo aqui e agora. Não têm tempo para qualquer consideração. As crianças já são impulsivas e, no lar do alcoólico, ficam mais ainda. Agir deste ou daquele modo dá no mesmo porque o lar é inconsistente. Não importa o que faz e tudo ainda fica mais complicado pela sensação de urgência. Comprar um cavalo e depois não saber o que fazer com ele. Abandonar o emprego sem maior razão. Casar sem conhecer bem a pessoa, como é o príncipe encantado que apareceu subitamente. Não são pacientes nem consigo mesmas e nem com os outros. Falta paciência, o que está associado à impulsividade.


            Para tornar o quadro menos traumatizante, devemos ressaltar que ele é, pelo menos em grande parte, reversível. É possível mudar as coisas assumindo atitudes novas e mais saudáveis e gerar experiências que concorram para restabelecer nos filhos o equilíbrio e a auto-estima.
            Considerando que os filhos aprendem, sobretudo, pelo exemplo, procure ser a pessoa que deseja que seus filhos imitem. Do mesmo modo pelo qual o parceiro alcoólico criou um clima negativo, o parceiro não-alcoólico pode gerar um clima positivo evitando tornar-se irritável, confusa, sentir-se culpada ou decepcionada. É preciso, com a valiosa ajuda de Al-Anon e Alateen, trabalhar aqueles traços identificados na foto do não-alcoólico. Sorria e relaxe e o ambiente na sua casa será relaxante e calmo.
            Informe aos seus filhos acerca dos fatos ligados à doença do alcoolismo e procure encorajá-los a freqüentar o Alateen. Fale sempre a verdade e abandone a negação. Dizer a verdade concorre para um novo senso da realidade, cria um novo referencial. Não procure acobertar o cônjuge alcoólico mentindo, pois a criança perceberá isso muito bem e ficará confusa. Quanto à negação, todos sabem que ela é a grande aliada do alcoolismo e, por isso mesmo, deve ser evitada.
            Tenha tempo para os seus filhos, converse com eles, restabeleça o diálogo. Mostre que quer ouvi-los. Estabeleça um canal de comunicação.
            Eduque-os mostrando sempre as conseqüências dos seus atos e isso fará diminuir a impulsividade, natural nas crianças, mas que deve ser trabalhada. Tenha tempo para isso.
            Procure criar um clima de amor e de ordem na sua casa. Procure ter atitudes afetuosas com os seus filhos. O que pode ser odiado é o alcoolismo, mas não as pessoas que dele são vítimas. Estabeleça horários e também uma amena disciplina na sua casa, pois isso dará aos seus filhos padrões para que, com eles, possam organizar as suas próprias vidas. Não se pode nunca exagerar ao ressaltar o poder do amor, especialmente dos pais.
            Procure fazer uma avaliação contínua do seu progresso em Al-Anon, compare sempre quem você era e quem você é hoje e isso irá colocando o presente e o futuro nas suas mãos. 

Anotações e extratos do Dr. Lais Marques da Silva
Ex-custódio e Presidente da Junta de Serviços Gerais de Alcoólicos Anônimos
 

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