Pretendo
transmitir a visão que tenho da máxima importância de Al-Anon e de Al-Ateen. De
início, ressalto uma dificuldade que me parece muito grande diante do nível
cultural do nosso país.
Não
é difícil argumentar em favor do fato de que o alcoolismo é uma doença. Todos
sabem que, quando um membro da família se torna um alcoólico, a família resulta
tão ou mais doente que o próprio alcoólico, mas é difícil transmitir a idéia de
uma família doente, de uma família disfuncional. A pessoa doente é objeto de
fácil observação. É fácil conceber o que seja um indivíduo doente, mas como
identificar uma família doente, como “ver” a sua doença? Por outro lado, a
sociedade em que vivemos já está conscientizada para o problema do uso do
álcool e para a gravidade do alcoolismo, mas ainda não pensou o suficiente na
família e, em particular, nas crianças que vivem num lar alcoólico.
É
fato que a família disfuncional não é apenas a que resulta da existência de um
cônjuge alcoólico. Ela pode ser a consequência do uso de outras drogas que não
o álcool ou ainda de outras compulsões como para a comida ou para o jogo e até
mesmo resultar da presença de um cônjuge portador de doenças crônicas ou,
ainda, do fato de um dos membros da família ser um fanático religioso. Isso
pode complicar ainda mais as coisas, mas, pelo menos, tira a exclusividade do
álcool.
É
sabido que o alcoólico, além de ser vítima da própria doença, afeta as pessoas
que o cercam, especialmente as que estão mais próximas, como é o caso dos
membros da família. Isso é evidente a partir da observação do comportamento
familiar do alcoólico. Mas não menos importantes são as consequências
resultantes do afastamento dos amigos ou da perda do emprego. Quase sempre, a
família não reage adequadamente, não se adapta e não se estrutura diante da
situação, ficando incapaz de ajudar a si mesma e ao doente alcoólico. Em consequência, torna-se também doente.
A
família é um sistema em que cada membro desempenha um papel em relação a todos os
outros e, quando o álcool causa mudanças no comportamento de um dos membros,
isso afeta também cada um membro da família. O equilíbrio é rompido porque o
foco das atenções se desloca para o dependente e todos os familiares passam a
compartilhar de comportamentos doentios porque todos eles fazem parte do mesmo
sistema.
Em
realidade, as pessoas que convivem com o dependente se tornam codependentes. A codependência, um termo relativamente novo, é tanto um conceito válido do ponto
de vista psicológico como se refere a um importante distúrbio do comportamento
humano. Ser codependente significa participar da dependência. É uma condição emocional,
psicológica e comportamental que resulta da exposição prolongada e da prática
de um conjunto de regras opressivas que inibem não só a expressão livre dos
sentimentos como também a discussão de problemas pessoais e interpessoais. Uma
pessoa codependente é a que permite que o comportamento de uma outra pessoa a
afete e também tem o seu comportamento afetado pela tentativa de controlar o
comportamento do dependente.
O
que se observa é um quadro em que se identificam vítimas de vítimas. A família
é vítima do seu membro alcoólico e ele, vítima da sua doença. Mas as coisas não
ficam por aí, pois sabemos que o alcoolismo, freqüentemente, segue a linha da
família, se instala na árvore genealógica porque, além de os filhos poderem
gerar, no futuro, outras famílias disfuncionais, como conseqüência das suas
personalidades mal estruturadas, também é fato de observação que os filhos de
alcoólicos têm um risco três vezes maior de desenvolverem o alcoolismo. Parece
haver uma tendência para que os filhos de pais alcoólicos se casem com
alcoólicos, sem que disso tenham consciência.
Essas
considerações colocam em destaque o trabalho de Al-Anon e de Alateen no sentido
de interromper um ciclo continuado de dor, de infelicidade e de sofrimento que
tende a se estender por gerações evitando, desse modo, a ampliação do número de
vítimas.
Vamos
agora analisar uma foto colorida de uma família disfuncional, de um alcoólico
na ativa para melhor observar e poder apreciar uma maior riqueza de detalhes. Vamos
ver como aparecem cada um dos seus integrantes.
O
ALCOÓLICO
01. É egocêntrico,
02. Nega o
alcoolismo e as suas manifestações,
03. Racionaliza,
numa tentativa de tudo explicar e justificar,
04. É grandioso
nos seus projetos e idéias,
05. É emocionalmente
imaturo,
06. Apresenta baixa
auto-estima,
07. Tem sentimento
de isolamento,
08. Tem sentimento
de culpa e de vergonha,
09. É dependente,
10. É perfeccionista,
11. É inábil em
expressar as suas emoções.
O
NÃO ALCOÓLICO
01. Usa a negação,
02. Vive em aborrecimento
contínuo,
03. Mente,
04. Tem medo,
05. Tem raiva,
06. Sente-se culpado,
07. Sofre de desapontamento,
08. Está
mergulhado em confusão mental,
09. Tem pena e
protege o bebedor,
10. Sofre desesperança,
11. Tem autopiedade,
12. Sente desânimo,
13. Sente desespero,
14. Apresenta mudanças
no relacionamento: a. tende à dominação,
b. tende a assumir o controle da família,
c. tende a adotar atividades isoladas e
absorventes
(atividades solitárias que prendem a
sua atenção).
15. Tem problemas
sexuais,
16. Sofre de ansiedade.
OS
FILHOS
Vamos
estudar esse ambiente de tensão e ansiedade e identificar algumas das suas manifestações
em relação aos filhos e ao seu comportamento na vida futura.
Embora
isso seja traumatizante, é muito importante ter conhecimento do ocorre numa
família disfuncional porque a verdade liberta e, a partir dela, podem-se
desenvolver comportamentos para mudar as coisas e não permanecer apenas como
vítimas. A partir desse entendimento, será possível controlar os pensamentos,
sentimentos e desejos, fazer uma opção mais sensata e escolher o caminho certo
ao longo da vida e não apenas ficar sendo empurrados e arrastados por seus
sentimentos e impulsos ou pela vontade dos outros. O controle da situação trará
a serenidade e a sensação de conforto.
Voltemos
a apreciar a foto da família e olhar para os filhos procurando, como
normalmente se faz, ver neles os traços dos pais. Não é difícil encontrar esses
traços comportamentais uma vez que os pais são sempre modelos de
desenvolvimento para os filhos que os capacitam para lidar com os seus
problemas íntimos e para desenvolver a auto-estima e o sentimento de segurança.
Mas,
na foto, vemos que são crianças diferentes: têm olhos tristes e o semblante
preocupado e, se tivéssemos um filme em vez de uma foto, veríamos que não
possuem a espontaneidade das outras crianças. Compreende-se por que se
apresentam assim, pois as suas vidas são cheias de problemas e eles estão
sempre dentro deles. Em realidade, não se sentem como crianças e nem mesmo
sabem o que é ser criança.
A
VIDA DOS FILHOS DE PAI OU MÃE ALCOÓLICO, NO LAR.
1. As famílias e
as pessoas são diferentes, mas o que acontece nos lares dos alcoólicos não é
muito diferente uns dos outros.
2. Cada criança
reage a seu modo, mas as experiências que têm são mais ou menos as mesmas.
3. O ambiente é
sempre de tensão e de ansiedade.
4. Ao abrir a
porta de casa, nunca sabem o que vão encontrar ou o que está por acontecer. Ou
seja, nunca estão preparadas para enfrentar os problemas.
5. O pai, quando
não alcoolizado, é bom e amável, interessado e atencioso e as promessas que
fazem são verdadeiras. Quando alcoolizado, as promessas são esquecidas, há
conflito, ansiedade e confusão e as crianças ficam no meio da briga. Sentem que
talvez, se não existissem, os pais não brigariam e aí vem o sentimento de
culpa.
6. A mãe é
irritadiça e cansada, como se o mundo pesasse nas suas costas. A criança, às
vezes, até prefere o pai, mesmo sendo ele um alcoólico.
7. Se a mãe é a
alcoólica, o pai já pode ter abandonado a família. Se não, vem na hora do
almoço para fazer o trabalho que não era seu. Os papeis de cada um dos membros
da família ficavam confusos.
8. A filha faz o
que era para a mãe fazer, realiza as tarefas da casa, toma conta dos irmãos,
etc, ou seja, é a mãe da mãe. Resulta que tudo fica muito confuso. Qual o
verdadeiro papel de cada membro da família? Quando a mãe fica sóbria, a filha sente
remorso. Sente pena da mãe pelo esforço que faz para ficar sóbria. Qual o seu
verdadeiro papel?
9. Quando ambos
os pais são alcoólicos, a vida se torna totalmente imprevisível. O lar é um
inferno. Ninguém diz uma palavra. O ambiente é tenso. O nervosismo e a raiva
estão no ar.
10. Sonham. Vivem
num mundo de fantasia. Pensam em ir embora. Perguntam-se quando acabaria isso?
Mas nenhuma das duas coisas acontece. Se a criança sai, fica preocupada com o
que possa estar acontecendo e procurava voltar logo para casa.
11. Aprendem a
guardar os seus sentimentos. As outras pessoas não podem saber o que se passa
dentro das suas casas.
12. São crianças
quietas. Fazem as coisas certas. São elogiadas. Mas são também amarradas
emocionalmente. Não têm espontaneidade.
A
VIDA DO FILHO/A DE PAI OU MÃE ALCOÓLICO NA ESCOLA
1. A vida
miserável dos filhos se reflete na escola.
2. São quietos,
responsáveis e podem ter notas altas e serem elogiados. Mas não são notados,
eram como que invisíveis. Preferiam até ser o palhaço da turma, ser alegres e
espontâneos, sem se levar tanto a sério.
3. Às vezes,
tinham um mau desempenho. Iam bem num semestre e mal no outro. Se inteligentes,
aprendiam, e pior, aprendiam inclusive a manipular os outros.
4. Um filho de
pai alcoólico, em recuperação no AA, ia ser reprovado na escola porque faltava
às aulas. Considerou, diante do fato, três diferentes possibilidades: 1. Reagiria
como o pai, nos velhos tempos, e diria ao professor que ele não podia fazer
isso, que não tinha esse direito; quem pensava ele que era? E faria queixa ao
diretor da escola. 2. Iria à casa do professor, se atiraria aos seus pés e
beijaria o seu anel (manipulação). 3. Já tendo trabalhado a si mesmo, pensou
que o melhor seria marcar uma entrevista e ver o que se podia fazer para
realizar o trabalho. Já tinha aprendido a ser responsável. Na primeira
hipótese, se continuasse agressivo, seria reprovado e ainda se sentiria vítima,
resultando que ficaria ainda mais ressentido. Poderia adotar comportamentos
anti-sociais que, por seu turno, poderiam levá-lo a uma instituição penal. A
segunda hipótese traria um sucesso temporário sendo bom artista, enganador e
manipulador; mas isso não funcionara para sempre e leva a uma percepção
distorcida da realidade. Não saberia o que o havia derrotado quando a farsa
terminasse. A terceira hipótese foi considerada a mais adequada porque daria
uma sensação de orgulho, qualquer que fosse o resultado e traria o respeito por
si mesmo.
5. Apresenta falta
de concentração. Vive em fantasias. Tem preocupação com a casa. Está sempre
sonhando e não prestando atenção à aula. Não dorme bem à noite por causa dos
conflitos. Se tudo é tão ruim, que diferença faz estudar ou não? Afinal,
ninguém se importa se vai mal ou bem. Não adianta pedir ajuda. Os pais prometem
e não cumprem. Não têm tempo para as crianças.
6. Se pede ajuda
ao professor, poderia ocorrer que ele perguntasse se tudo vai bem e aí tinha
que negar e dizer que tudo ia bem, e não ia. Tem que guardar para si os seus
sentimentos.
7. A escola é um
problema, um lugar que apenas tem que ir.
RELACIONAMENTOS
COM OS AMIGOS
1. Brincam, mas
não são iguais às outras crianças.
2. Têm
dificuldade em fazer amigos. Quem gostaria deles, afinal? Não se sentem amados.
Pensam que são pessoas sem valor. Têm medo de que as outras crianças saibam de
alguma coisa acerca da vida delas. Se vão brincar na casa de amigos, ficam na
obrigação de convidá-los um dia para também ir à sua e os amigos poderiam
encontrar o pai deitado no chão. A mãe daria uma explicação, mas o fato é que
os amigos não voltariam mais. Falta espontaneidade. É melhor ficar longe das
outras crianças. Às vezes, aceitam um
tratamento inadequado e desagradável, pois precisam manter os poucos amigos. São
incapazes de aprender a fazer amigos.
3. Seria bom
ficar na escola e brincar, mas precisam voltar para casa porque estão
preocupados com o que pode estar acontecendo. Os sentimentos são
contraditórios, querem fugir de casa, mas precisam sempre voltar.
O
PROBLEMA DA AUTO-ESTIMA DOS FILHOS
1. Ter auto-estima
é sentir-se como tendo valor. Todas as pessoas dependem do que os outros dizem,
pois internalizam as mensagens. No lar, as mensagens têm duplo sentido. Afinal,
o que é verdade? Dizem: você não faz as coisas direito e, depois afirmam que
precisam deles. “Tudo vai bem, não se preocupe”, e depois dizem, “como posso
agüentar isso?”. “Fale sempre a verdade” e depois dizem: “eu não quero saber”.
O perfeccionismo do alcoólico o faz achar defeito em tudo. Há promessas não
cumpridas, mentiras e problemas. A promessa do passeio de fim de semana, do
vestido novo de presente e do jantar juntos acaba em nada. Pensam que mais
tarde vai dar certo e o mais tarde nunca chegava. Recebiam como resposta o
simples “esquece”. O que era real?
2. Começam a
mentir automaticamente.
3. A dupla
mensagem faz perder a visão de si mesmas.
4. No fundo,
sentem que os pais as amam. O álcool não destrói o amor, que parece distorcido,
mas é real.
REFLEXOS
NA VIDA FUTURA
1. Precisam saber
o que é normal. Usualmente, são preocupados e não sabem o que é apropriado numa
determinada situação. Não têm certeza das coisas. Não têm liberdade para
perguntar. Não querem parecer bobos. A vida era uma loucura. Os dias são
caóticos. Os dias normais são atípicos. Vivem num mundo de fantasia, no mundo
do "se", mas que, por outro lado, ajuda a sobreviver. Não têm um
padrão de referência do que seria um lar normal. Vivem pisando em ovos,
reprimidos. Mais tarde, quando têm filhos, apresentam dificuldade em
avaliá-los. Não sabem o que é ser adolescente, por exemplo, porque nunca
viveram as suas idades. O que lhes pode parecer anormal, eventualmente, não é.
Não se encaixam inteiramente no papel de pais. O que é normal?
2. Têm
dificuldade para levar até o final as suas tarefas, os seus projetos. Em casa,
as promessas não eram cumpridas, a casa da boneca prometida nunca se
transformava em realidade; prometiam fazer isso e aquilo e não saia nada. O
alcoólico quer crédito por ter tido uma idéia ou uma intenção, embora fique só
nisso. A comentada pintura da sala não acontecia. As idéias eram maravilhosas,
mas não se transformavam em realidade. Às vezes, tanto tempo se passava que a
idéia inicial era esquecida. Ninguém ajudava a fazer as coisas e a família não
era uma equipe.
3. Mentem quando
seria mais fácil dizer a verdade. Na família do alcoólico é comum mentir para
negar as realidades desagradáveis, para acobertar. É comum fazer promessas que
não serão cumpridas. Há inconsistências. Não são mentiras, propriamente, mas
são coisas que se afastam da verdade. Aprendem a mentir e, depois, a usar a
mentira. Dizia que o trabalho da escola estava pronto e ia brincar, e não
estava. Diga a verdade, a verdade é uma virtude, mas as coisas não eram assim e
a verdade era sem significação e a mentira era um hábito.
4. Julgam a si
mesmas com muita severidade. As crianças eram sempre criticadas. Nunca faziam
as coisas certas. Não havia padrões de perfeição. A criança se sentia
deficiente. Tinha uma auto-estima negativa. Diante da crítica, a solução era se
empenhar mais, cada vez mais, fazer sempre melhor. Se algo saia errado era
porque tinham falhado em algo. Se dava certo, era mérito dos outros e se era
mesmo delas o mérito, diziam, "isso não tem maior importância". Isso
não é humildade e sim distorção da realidade. Era preciso manter a auto-imagem
negativa porque estavam acostumadas a ela.
5. Têm
dificuldade em se divertir. Levam muito a sério a si mesmas. Os filhos dos
alcoólicos não se divertem porque a sua vida é um "trauma contínuo".
A vida é séria e amarga. Os pais não riem, não brincam, não se divertem. Não
aprendem a brincar com os outros. No lar, não há lugar para brincadeiras
distraídas. As crianças não são espontâneas e descontraídas.
6. Têm
dificuldades em fazer relações íntimas. Não possuem padrões de referência para
o que seja um relacionamento íntimo saudável. Tornam-se próximos e depois se
afastam. Há inconsistência no relacionamento pai/mãe/filhos. Amados num dia e
rejeitados no outro. A rejeição e o medo de serem abandonadas levava à falta de
confiança e à sensação de não serem dignas de receber amor. Não se sentem boas
pessoas. Há em casa um sentimento de urgência. Os momentos de felicidade são
fugazes. Se há uma promessa e ela não é cumprida logo, aí as coisas nunca mais
acontecem. As coisas não fluem normalmente. Os membros da família não se
conhecem bem, não descobrem os seus sentimentos e as suas atitudes.
7. Reagem
intensamente em relação a mudanças sobre as quais não têm controle. Para
sobreviverem, sentem que têm que ter controle sobre o ambiente. Não podem
confiar no julgamento das outras pessoas do seu lar. Se não ficarem atentas, as
coisas podem mudar de repente e isso é igual a perder o controle das suas
vidas. São rígidas e sem espontaneidade.
8. Sentem-se
diferentes dos outros, e realmente são. Sentem-se desconfortáveis, mesmo nos
ambientes confortáveis. Sentem-se diferentes desde a infância. Estão sempre
preocupadas. Não estão à vontade quando brincam. A socialização é difícil. São
diferentes e isoladas.
9. São usualmente
super-responsáveis ou superirresponsáveis. Empenham-se em ser sempre melhor e
melhor e isso, às vezes, não adianta. Por vezes, em face das críticas, não se
empenham mais. É tudo ou nada. Na família um não coopera com o outro, não se
sentem fazendo parte de um projeto, colaborando para um fim, do que resultava
em fazer tudo sozinha ou não fazer nada.
10. São muito
leais, ainda quando a lealdade não é merecida. O lar de um alcoólico parece ser
um lugar de lealdade, mas que resulta mais do medo e da insegurança.
11. São
impulsivos. Não identificam alternativas e não avaliam as conseqüências dos
seus atos. O resultado é uma perda do controle do meio ambiente que leva a uma
confusão que depois dá muito trabalho para arrumar. Tudo isso é muito
alcoólico. As idéias são do tipo aqui e agora. Não têm tempo para qualquer
consideração. As crianças já são impulsivas e, no lar do alcoólico, ficam mais
ainda. Agir deste ou daquele modo dá no mesmo porque o lar é inconsistente. Não
importa o que faz e tudo ainda fica mais complicado pela sensação de urgência.
Comprar um cavalo e depois não saber o que fazer com ele. Abandonar o emprego
sem maior razão. Casar sem conhecer bem a pessoa, como é o príncipe encantado
que apareceu subitamente. Não são pacientes nem consigo mesmas e nem com os
outros. Falta paciência, o que está associado à impulsividade.
Para
tornar o quadro menos traumatizante, devemos ressaltar que ele é, pelo menos em
grande parte, reversível. É possível mudar as coisas assumindo atitudes novas e
mais saudáveis e gerar experiências que concorram para restabelecer nos filhos
o equilíbrio e a auto-estima.
Considerando
que os filhos aprendem, sobretudo, pelo exemplo, procure ser a pessoa que
deseja que seus filhos imitem. Do mesmo modo pelo qual o parceiro alcoólico
criou um clima negativo, o parceiro não-alcoólico pode gerar um clima positivo
evitando tornar-se irritável, confusa, sentir-se culpada ou decepcionada. É
preciso, com a valiosa ajuda de Al-Anon e Alateen, trabalhar aqueles traços
identificados na foto do não-alcoólico. Sorria e relaxe e o ambiente na sua
casa será relaxante e calmo.
Informe
aos seus filhos acerca dos fatos ligados à doença do alcoolismo e procure
encorajá-los a freqüentar o Alateen. Fale sempre a verdade e abandone a
negação. Dizer a verdade concorre para um novo senso da realidade, cria um novo
referencial. Não procure acobertar o cônjuge alcoólico mentindo, pois a criança
perceberá isso muito bem e ficará confusa. Quanto à negação, todos sabem que
ela é a grande aliada do alcoolismo e, por isso mesmo, deve ser evitada.
Tenha
tempo para os seus filhos, converse com eles, restabeleça o diálogo. Mostre que
quer ouvi-los. Estabeleça um canal de comunicação.
Eduque-os
mostrando sempre as conseqüências dos seus atos e isso fará diminuir a
impulsividade, natural nas crianças, mas que deve ser trabalhada. Tenha tempo
para isso.
Procure
criar um clima de amor e de ordem na sua casa. Procure ter atitudes afetuosas
com os seus filhos. O que pode ser odiado é o alcoolismo, mas não as pessoas
que dele são vítimas. Estabeleça horários e também uma amena disciplina na sua
casa, pois isso dará aos seus filhos padrões para que, com eles, possam organizar
as suas próprias vidas. Não se pode nunca exagerar ao ressaltar o poder do
amor, especialmente dos pais.
Procure
fazer uma avaliação contínua do seu progresso em Al-Anon, compare sempre quem
você era e quem você é hoje e isso irá colocando o presente e o futuro nas suas
mãos.
Anotações e extratos do Dr.
Lais Marques da Silva
Ex-custódio e Presidente da
Junta de Serviços Gerais de Alcoólicos Anônimos
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