FATORES CONTRIBUINTES AO ALCOOLISMO
Fatores sociais, psicológicos e
religiosos, bem como problemas temporários podem influenciar na decisão de
beber tanto no adolescente quanto no adulto jovem. Dada a alta taxa de
prevalência de indivíduos que, por qualquer motivo, num momento ou outro da
vida fizeram uso de álcool, torna o beber um fenômeno praticamente universal.
Entretanto, fatores que podem influenciar a decisão de beber ou fatores que
contribuem para problemas temporários, podem ser diferentes daqueles que
contribuem para os problemas recorrentes e graves da dependência de álcool. Os
fatores genéticos são sempre postos em evidencia. Dados que apoia as
influências genéticas no alcoolismo são: familiares próximos apresentam um
risco quatro vezes maior que indivíduos que não têm familiares alcoolistas; o
gêmeo idêntico de um indivíduo com problemas de alcoolismo apresenta maior
risco que um gêmeo fraterno; e filhos de alcoolistas que foram adotados têm o
risco quatro vezes maior de apresentar alcoolismo, mesmo que separados dos pais
após o nascimento. A maioria dos estudos sobre a determinação genética no
alcoolismo aponta que geralmente indivíduos onde um dos pais é ou foi
alcoolista têm alta predisposição para o alcoolismo (SHUCKIT, 1999).
Lewontin (2002) questionou a visão da
biologia moderna ao fundamentar o desenvolvimento dos organismos apenas em
termos de genes e organelas celulares, onde o ambiente teria um papel meramente
passivo ou de cenário. Ou seja, os genes no ovo fertilizado determinariam todo
o desenrolar até o estado final do organismo. Nisso também está contida a ideia
de tendência. Metaforicamente, seria como a revelação do filme fotográfico que,
quando exposto à temperatura e aos líquidos apropriados, produz a imagem que
nele está imanente. Assim, o ponto de vista genético implicaria que um
indivíduo portador de um gene ou genes determinantes do alcoolismo estaria
praticamente condenado a ser um dependente de álcool, pois a sociedade
ocidental é estimuladora ao beber alcoólicos.
O que temos observado na prática
clínica é que o conceito de determinismo genético, de modo geral, acaba sendo
erroneamente utilizado ou como uma defesa por muitos alcoolistas como forma de
aceitar passivamente o próprio comportamento de beber alcoólicos, entendendo-o
como parte intrínseca, portanto, insuperável de sua natureza humana; isto é, um
destino irreversível que inviabiliza, a priori, movimentos ou tentativas de
mudanças. Não há ainda certeza científica, mesmo que aproximada, sobre qual
fator é o mais determinante na etiologia do alcoolismo. Estudos apontam
evidências para as várias condições, mas sem conclusão definitiva. Em vários
estudos realizados nas três últimas décadas com o objetivo de diferenciar os
etilistas e o restante da população, nada se concluiu sobre um perfil do
alcoolista, quer do ponto de vista genético, quer da personalidade (LARANJEIRA;
PINSKY, 1997).
A
idade do primeiro drink (13-15 anos),
a idade da primeira intoxicação (15-17 anos) e a idade do primeiro problema
relacionado ao consumo de álcool (16-22 anos) observados em indivíduos que
desenvolveram alcoolismo, não diferem basicamente do esperado da população
geral que não tem problema posterior de abuso ou dependência de álcool
(SHUCKIT, 1999). Em suma, não há um consenso entre os pesquisadores de que uma
explicação causal para o alcoolismo seja mais determinante do que outra. Tem-se
lido ou ouvido em algum lugar que um ou dois drinks por dia diminuem a incidência de ataque cardíaco e doença
arterial coronariana. Isto é verdade, mas é preciso que outros fatores de risco
cardíaco sejam eliminados antes de sair abrindo garrafas de vinho. Além disso,
o próprio risco de se tornar um dependente do álcool devem ser levado em conta.
Os cientistas há muitos anos vem avaliando diversos aspectos que mostram o
risco de um indivíduo tornar-se alcoólatra. Os principais são conforme Shuckit
(1999):
a) risco geral e idade: alguns
estudos populacionais indicam que, em um único ano, entre 7,4% e 9,7% da
população mundial se encontra dependente de álcool. As pessoas com histórias
familiares de alcoolismo apresentam uma maior probabilidade de começar a beber
antes da idade de 20 anos e se tornar alcoólatras. Mas qualquer um que comece a
beber na adolescência apresenta um risco aumentado. Atualmente, cerca de 1,9
milhões de jovens entre 12 e 20 anos são considerados bebedores pesados e 4,4
milhões são bebedores iniciantes. Apesar do alcoolismo geralmente se
desenvolver na idade adulta, a velhice não é uma exceção. Na verdade, estima-se
que cerca de 15% dos homens e 12% das mulheres com mais de 60 anos de idade
bebam além da conta;
b) sexo: os homens
constituem a maioria dos alcoólatras, mas a incidência do alcoolismo entre as
mulheres tem aumentado nos últimos 30 anos. Estudos afirmam que cerca de 9,3%
dos homens e 1,9% das mulheres são dependentes do álcool e 22% dos homens e
8,7% das mulheres ocasionalmente bebem além da conta (Abuso Alcoólico). As
mulheres tendem a beber mais durante o período pré-menstrual. Também se tornam
dependentes mais tardiamente que os homens. Contudo, apesar do alcoolismo entre
as mulheres ocorrer mais tarde na vida, os problemas de saúde que elas
desenvolvem ocorrem mais ou menos na mesma idade dos homens, sugerindo uma
maior susceptibilidade à toxicidade do álcool;
c) história familiar: o
risco de alcoolismo em filhos de pais alcoólatras é de 25%. O vínculo familial
é mais fraco para as mulheres, mas os fatores genéticos contribuem para esta
doença em ambos os sexos. Mulheres advindas de famílias com história de
distúrbios emocionais, parentes rejeitados ou dissolução familiar precoce não
apresentam riscos maiores que aquelas que não apresentam os mesmos
antecedentes. Uma família estável e psicologicamente saudável não é garantia
para pessoas com risco genético. Infelizmente, não há como prever quais membros
de famílias alcoólatras apresentam maior risco para a doença;
d) raça: no geral, não há
diferença de prevalência do alcoolismo entre as raças. Apesar das causas
biológicas dos diferentes riscos não serem conhecidas, determinadas pessoas em
certos grupos populacionais podem apresentar um risco maior ou menor de acordo
com a maneira como metabolizam o álcool. As populações indígenas são menos
sensíveis aos efeitos intoxicantes do álcool. Muitos asiáticos apresentam um
risco menor de se tornarem alcoólatras devido a um fator genético que os torna
deficientes em aldeído desidrogenasse, uma substância química utilizada pelo
corpo para metabolizar o álcool. Na sua ausência, são formadas substâncias
tóxicas a partir do álcool que rapidamente levam a rubor, tonteira e náuseas.
As pessoas com esta susceptibilidade genética, portanto, apresentam reações
adversas ao álcool e, dessa forma, não se torna alcoolistas. Entretanto, esta
deficiência não protege completamente contra o alcoolismo, particularmente se
associada a pressões sociais. É importante compreender que, se hereditário ou
não, o alcoolismo não exime as pessoas das responsabilidades legais de seus
atos;
e) distúrbios emocionais:
pessoas muito deprimidas ou ansiosas apresentam um risco elevado para
alcoolismo, tabagismo e outros vícios. A depressão acompanha cerca de um terço
de todos os casos de alcoolismo, sendo mais comum entre mulheres alcoólatras
que entre os homens. A depressão em mulheres alcoólatras pode fazê-las beber
menos que as mulheres não deprimidas, enquanto que nos homens alcoólatras a
depressão possui efeito contrário, aumentando o consumo da bebida. A depressão
e a ansiedade desempenham papéis importantes no desenvolvimento do alcoolismo
entre idosos;
f) traços da personalidade: cientistas estão descobrindo que o álcool
relaciona-se com comportamentos impulsivos estabelecidos ainda na infância:
crianças hiperativas ou com dificuldade de concentrar atenção apresentam um
risco maior de alcoolismo. As crianças que mais tarde se tornarão alcoólatras
ou viciadas em drogas tendem a ter menos medo de novas situações que outras,
mesmo quando há perigo de se machucarem;
g) fatores socioeconômicos: acreditava-se que o alcoolismo fosse mais
prevalente na população de nível socioeconômico mais baixo, mas na verdade não
existem grandes diferenças entre as várias classes sociais. O alcoolismo possa
ser mais perigoso nas classes mais baixas pela maior dificuldade no acesso a
recursos médicos;
h) fatores geográficos:
apesar de 54% dos adultos dos centros urbanos usarem álcool pelo menos uma vez
ao mês contra 24% daqueles de áreas rurais, a vida na cidade ou no campo não
afeta os riscos de se desenvolver alcoolismo;
i) excesso de açúcar: as pessoas que
comem açúcar em excesso (por ansiedade) também apresentam um risco maior de
alcoolismo.
Nascimento e Justo (2000) afirmam que
a partir do momento em que o alcoolista passa a depender do álcool e não pode
decidir o quanto vai beber, passa a ter uma vida regida pela dependência, pela
necessidade de continuar bebendo e de evitar os sintomas da privação do álcool.
Submetido a essa dependência, passa a ter prejuízos nas áreas de sua vida
física, psicológica, familiar social e moral. Os prejuízos decorrentes da
ingestão de bebidas alcoólicas vão aumentando e o alcoolista utiliza, como
defesa, todos os recursos para que nada se interponha entre ele e o álcool:
ameaça, promete, seduz e mente. De um modo geral, o alcoolista é inseguro,
tímido, geralmente aparecendo quando está em situação que lhe obrigue a exercer
atividades. Como exemplo, podemos citar o alcoolista frente ao casamento.
Muitas vezes não está preparado para assumir as responsabilidades de uma
família. Ao iniciar sua vida conjugal, bebe, mas não cria problemas.
A seguir o alcoolismo se exacerba,
pois um dos fatores responsáveis é a relação com a esposa, na qual espera
encontrar ajuda para as suas necessidades insatisfeitas e de quem pode
depender. O alcoolista passa por situações de angústia e tensões quando se
sente inferior social, emocional e sexualmente. Através do álcool, descobre as
facilidades e dificuldades que a intoxicação lhe oferece para estabelecer
contato com os outros, assim como exerce efeitos desinibidores tanto agressivos
quando sexuais, reduzindo as sensações desagradáveis, que passam no momento.
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