terça-feira, 16 de julho de 2013

Fatores Que Contribuem para o Alcoolismo



FATORES CONTRIBUINTES AO ALCOOLISMO

Fatores sociais, psicológicos e religiosos, bem como problemas temporários podem influenciar na decisão de beber tanto no adolescente quanto no adulto jovem. Dada a alta taxa de prevalência de indivíduos que, por qualquer motivo, num momento ou outro da vida fizeram uso de álcool, torna o beber um fenômeno praticamente universal. Entretanto, fatores que podem influenciar a decisão de beber ou fatores que contribuem para problemas temporários, podem ser diferentes daqueles que contribuem para os problemas recorrentes e graves da dependência de álcool. Os fatores genéticos são sempre postos em evidencia. Dados que apoia as influências genéticas no alcoolismo são: familiares próximos apresentam um risco quatro vezes maior que indivíduos que não têm familiares alcoolistas; o gêmeo idêntico de um indivíduo com problemas de alcoolismo apresenta maior risco que um gêmeo fraterno; e filhos de alcoolistas que foram adotados têm o risco quatro vezes maior de apresentar alcoolismo, mesmo que separados dos pais após o nascimento. A maioria dos estudos sobre a determinação genética no alcoolismo aponta que geralmente indivíduos onde um dos pais é ou foi alcoolista têm alta predisposição para o alcoolismo (SHUCKIT, 1999).
Lewontin (2002) questionou a visão da biologia moderna ao fundamentar o desenvolvimento dos organismos apenas em termos de genes e organelas celulares, onde o ambiente teria um papel meramente passivo ou de cenário. Ou seja, os genes no ovo fertilizado determinariam todo o desenrolar até o estado final do organismo. Nisso também está contida a ideia de tendência. Metaforicamente, seria como a revelação do filme fotográfico que, quando exposto à temperatura e aos líquidos apropriados, produz a imagem que nele está imanente. Assim, o ponto de vista genético implicaria que um indivíduo portador de um gene ou genes determinantes do alcoolismo estaria praticamente condenado a ser um dependente de álcool, pois a sociedade ocidental é estimuladora ao beber alcoólicos.
O que temos observado na prática clínica é que o conceito de determinismo genético, de modo geral, acaba sendo erroneamente utilizado ou como uma defesa por muitos alcoolistas como forma de aceitar passivamente o próprio comportamento de beber alcoólicos, entendendo-o como parte intrínseca, portanto, insuperável de sua natureza humana; isto é, um destino irreversível que inviabiliza, a priori, movimentos ou tentativas de mudanças. Não há ainda certeza científica, mesmo que aproximada, sobre qual fator é o mais determinante na etiologia do alcoolismo. Estudos apontam evidências para as várias condições, mas sem conclusão definitiva. Em vários estudos realizados nas três últimas décadas com o objetivo de diferenciar os etilistas e o restante da população, nada se concluiu sobre um perfil do alcoolista, quer do ponto de vista genético, quer da personalidade (LARANJEIRA; PINSKY, 1997).
A idade do primeiro drink (13-15 anos), a idade da primeira intoxicação (15-17 anos) e a idade do primeiro problema relacionado ao consumo de álcool (16-22 anos) observados em indivíduos que desenvolveram alcoolismo, não diferem basicamente do esperado da população geral que não tem problema posterior de abuso ou dependência de álcool (SHUCKIT, 1999). Em suma, não há um consenso entre os pesquisadores de que uma explicação causal para o alcoolismo seja mais determinante do que outra. Tem-se lido ou ouvido em algum lugar que um ou dois drinks por dia diminuem a incidência de ataque cardíaco e doença arterial coronariana. Isto é verdade, mas é preciso que outros fatores de risco cardíaco sejam eliminados antes de sair abrindo garrafas de vinho. Além disso, o próprio risco de se tornar um dependente do álcool devem ser levado em conta. Os cientistas há muitos anos vem avaliando diversos aspectos que mostram o risco de um indivíduo tornar-se alcoólatra. Os principais são conforme Shuckit (1999):
a) risco geral e idade: alguns estudos populacionais indicam que, em um único ano, entre 7,4% e 9,7% da população mundial se encontra dependente de álcool. As pessoas com histórias familiares de alcoolismo apresentam uma maior probabilidade de começar a beber antes da idade de 20 anos e se tornar alcoólatras. Mas qualquer um que comece a beber na adolescência apresenta um risco aumentado. Atualmente, cerca de 1,9 milhões de jovens entre 12 e 20 anos são considerados bebedores pesados e 4,4 milhões são bebedores iniciantes. Apesar do alcoolismo geralmente se desenvolver na idade adulta, a velhice não é uma exceção. Na verdade, estima-se que cerca de 15% dos homens e 12% das mulheres com mais de 60 anos de idade bebam além da conta;
b) sexo: os homens constituem a maioria dos alcoólatras, mas a incidência do alcoolismo entre as mulheres tem aumentado nos últimos 30 anos. Estudos afirmam que cerca de 9,3% dos homens e 1,9% das mulheres são dependentes do álcool e 22% dos homens e 8,7% das mulheres ocasionalmente bebem além da conta (Abuso Alcoólico). As mulheres tendem a beber mais durante o período pré-menstrual. Também se tornam dependentes mais tardiamente que os homens. Contudo, apesar do alcoolismo entre as mulheres ocorrer mais tarde na vida, os problemas de saúde que elas desenvolvem ocorrem mais ou menos na mesma idade dos homens, sugerindo uma maior susceptibilidade à toxicidade do álcool;
c) história familiar: o risco de alcoolismo em filhos de pais alcoólatras é de 25%. O vínculo familial é mais fraco para as mulheres, mas os fatores genéticos contribuem para esta doença em ambos os sexos. Mulheres advindas de famílias com história de distúrbios emocionais, parentes rejeitados ou dissolução familiar precoce não apresentam riscos maiores que aquelas que não apresentam os mesmos antecedentes. Uma família estável e psicologicamente saudável não é garantia para pessoas com risco genético. Infelizmente, não há como prever quais membros de famílias alcoólatras apresentam maior risco para a doença;
d) raça: no geral, não há diferença de prevalência do alcoolismo entre as raças. Apesar das causas biológicas dos diferentes riscos não serem conhecidas, determinadas pessoas em certos grupos populacionais podem apresentar um risco maior ou menor de acordo com a maneira como metabolizam o álcool. As populações indígenas são menos sensíveis aos efeitos intoxicantes do álcool. Muitos asiáticos apresentam um risco menor de se tornarem alcoólatras devido a um fator genético que os torna deficientes em aldeído desidrogenasse, uma substância química utilizada pelo corpo para metabolizar o álcool. Na sua ausência, são formadas substâncias tóxicas a partir do álcool que rapidamente levam a rubor, tonteira e náuseas. As pessoas com esta susceptibilidade genética, portanto, apresentam reações adversas ao álcool e, dessa forma, não se torna alcoolistas. Entretanto, esta deficiência não protege completamente contra o alcoolismo, particularmente se associada a pressões sociais. É importante compreender que, se hereditário ou não, o alcoolismo não exime as pessoas das responsabilidades legais de seus atos;
e) distúrbios emocionais: pessoas muito deprimidas ou ansiosas apresentam um risco elevado para alcoolismo, tabagismo e outros vícios. A depressão acompanha cerca de um terço de todos os casos de alcoolismo, sendo mais comum entre mulheres alcoólatras que entre os homens. A depressão em mulheres alcoólatras pode fazê-las beber menos que as mulheres não deprimidas, enquanto que nos homens alcoólatras a depressão possui efeito contrário, aumentando o consumo da bebida. A depressão e a ansiedade desempenham papéis importantes no desenvolvimento do alcoolismo entre idosos;
f) traços da personalidade: cientistas estão descobrindo que o álcool relaciona-se com comportamentos impulsivos estabelecidos ainda na infância: crianças hiperativas ou com dificuldade de concentrar atenção apresentam um risco maior de alcoolismo. As crianças que mais tarde se tornarão alcoólatras ou viciadas em drogas tendem a ter menos medo de novas situações que outras, mesmo quando há perigo de se machucarem;
g) fatores socioeconômicos: acreditava-se que o alcoolismo fosse mais prevalente na população de nível socioeconômico mais baixo, mas na verdade não existem grandes diferenças entre as várias classes sociais. O alcoolismo possa ser mais perigoso nas classes mais baixas pela maior dificuldade no acesso a recursos médicos;
h) fatores geográficos: apesar de 54% dos adultos dos centros urbanos usarem álcool pelo menos uma vez ao mês contra 24% daqueles de áreas rurais, a vida na cidade ou no campo não afeta os riscos de se desenvolver alcoolismo;
i) excesso de açúcar: as pessoas que comem açúcar em excesso (por ansiedade) também apresentam um risco maior de alcoolismo.
Nascimento e Justo (2000) afirmam que a partir do momento em que o alcoolista passa a depender do álcool e não pode decidir o quanto vai beber, passa a ter uma vida regida pela dependência, pela necessidade de continuar bebendo e de evitar os sintomas da privação do álcool. Submetido a essa dependência, passa a ter prejuízos nas áreas de sua vida física, psicológica, familiar social e moral. Os prejuízos decorrentes da ingestão de bebidas alcoólicas vão aumentando e o alcoolista utiliza, como defesa, todos os recursos para que nada se interponha entre ele e o álcool: ameaça, promete, seduz e mente. De um modo geral, o alcoolista é inseguro, tímido, geralmente aparecendo quando está em situação que lhe obrigue a exercer atividades. Como exemplo, podemos citar o alcoolista frente ao casamento. Muitas vezes não está preparado para assumir as responsabilidades de uma família. Ao iniciar sua vida conjugal, bebe, mas não cria problemas.
A seguir o alcoolismo se exacerba, pois um dos fatores responsáveis é a relação com a esposa, na qual espera encontrar ajuda para as suas necessidades insatisfeitas e de quem pode depender. O alcoolista passa por situações de angústia e tensões quando se sente inferior social, emocional e sexualmente. Através do álcool, descobre as facilidades e dificuldades que a intoxicação lhe oferece para estabelecer contato com os outros, assim como exerce efeitos desinibidores tanto agressivos quando sexuais, reduzindo as sensações desagradáveis, que passam no momento.

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