O adicto codependente
O fenômeno da
codependência não é privativo dos familiares dos adictos. Existem muitos
alcoólicos e adictos a drogas que também são codependentes. E quando um adicto
ao álcool e/ou às drogas é codependente de seu parceiro terá sérios problemas
de ingovernabilidade sentimental e sexual, o que o levará a desenvolver síndrome
de bebedeira seca.
O menino rei. Esse imaturo emocional que tem muita dependência de sua mãe e de
todas as mulheres-mãe com quem se relacione em sua vida seja noiva, amante ou
esposa. Pois bem, este sujeito vai desenvolver uma grande dependência, o que o
levará a tratar de controlar e dominar à mulher para não a perder. Isso o
levará a desenvolver condutas inadequadas como possessividade, domínio, ciúmes,
ameaças e, em ocasiões, violência verbal e física. Deixar o álcool ou as drogas
não exime a muitas pessoas em recuperação de seguir manifestando estes claros
sintomas de bebedeira seca.
Quando há uma relação de
codependência é necessário perguntar-se se há um verdadeiro amor entre o casal
ou é simplesmente necessidade. “Não é o mesmo dizer: amo-te porque te preciso,
que dizer te preciso porque te amo” (Erich Fromm, A arte de amar).
Dizer “Te amo porque te
preciso” é manifestação de codependência entre o casal, ao contrário dizer “Te
preciso porque te amo” é manifestação de amor maduro.
O núcleo do problema
psicológico do adicto codependente encontra-se em sua incapacidade para amar,
ou simplesmente que ama imaturidade, como um menino que precisa da sua mamãe.
Voltamos a citar Erich Fromm, de seu livro A arte de amar. O psicanalista define
o amor maduro como “a expressão da produtividade que implica interesse,
respeito, cuidado, responsabilidade e conhecimento, um esforço por crescer e
buscar a felicidade da pessoa amada, enraizado na própria capacidade para
amar”. Ao mesmo tempo, Brenda Schaeffer, em seu livro É amor ou vício? Define o
amor viciante como imaturo, possessivo, limitante, medroso e dependente.
A mesma Brenda Schaeffer
acrescenta que o adicto ao amor é uma pessoa que procura apoio em alguém
externo a ele mesmo, numa tentativa de cobrir necessidades não satisfeitas para
evitar o temor ou dor emocional, solucionar problemas e manter o equilíbrio. “O
paradoxo é que o vício ao amor é uma tentativa de conseguir o controle de
nossas vidas e, ao fazê-lo, descontrolamo-nos ao dar poder pessoal a alguém
diferente de nós mesmos.”
O alcoólico que
finalmente conseguiu tirar o álcool do centro de sua vida agora está girando ao
redor de uma pessoa que ocupou o lugar que antes tinha o álcool. Por isto está
em bebedeira seca, porque mudou o vício a uma substância pelo vício a uma
pessoa.. Curiosamente, muitos destes alcoólicos quando perdem a pessoa à que
são adictos, voltam a recair no álcool ou nas drogas. Quanto trabalho lhes
custa atingir a verdadeira libertação!
Você é um misógino?
Finalmente devemos dizer
algo sobre o misógino, que é um tipo de codependente muito patológico e
perigoso. Lamentavelmente entre os alcoólicos e os adictos a drogas existe uma
grande quantidade de misóginos.
Um misógino é um homem
que odeia as mulheres, mas que não pode viver sem elas. É uma forma de
codependência extrema e patológica onde o misógino se sente o dono de sua
parceira e, portanto a domina, submete-a e a controla totalmente. Qualquer
tentativa de oposição a este tipo de ações por parte da parceira gera tensões e
problemas muito sérios que podem chegar até a violência física.
As características do
misógino são as seguintes:
o Precisa
ter o controle absoluto da relação.
o São
zelosos e possessivos.
o Para
conseguir o controle recorrem à sedução, a chantagem, a manipulação, a ameaça,
a intimidação, a humilhação e a agressão verbal e física.
o Mantêm
permanentemente uma atitude de superioridade ante seu par a quem nunca dão
razão.
o Nunca
pedem desculpas. O misógino convence seu par de que o incidente não existiu.
o Sempre
deslocam a culpa. Se algo sai mal e agride seu par, a culpada deve ser ela e é
ela que tem que pedir desculpas.
o Encoleriza-se
se seu par se queixa de algo. Ela não tem direito nem a reclamar nem a chorar.
o Quando
sente que está perdendo o controle passa da violência psicológica à física.
o Reduz o
mundo de seu par: ela não pode ter atividades nem amizades. Não pode ser ela
mesma. Ele tem que saber tudo o que
o Não
tolera o término de uma relação. Sempre a estará espreitando e acossando.
Considera-se o dono de seu par.
Não há que esquecer que
a relação do misógino com seu par é uma simbiose neurótica, uma
interdependência de um codependente com outra codependente. Ela também tem que
trabalhar em sua própria doença para poder libertar-se. As principais
características do par do misógino são as seguintes:
o São
adictas ao amor.
o Não são
ninguém se não têm um homem.
o São
auto-suficientes e fortes em outras áreas da vida.
o São
masoquistas: quanto mais às agridam mais se apegam.
o Mantêm
a esperança que ocorrerá algo que vai mudá-lo.
o Vivem
com medo e insegurança de perder seu par.
O misógino constitui uma
das formas mais graves de bebedeira seca. O prognóstico destas pessoas é
bastante reservado, pois muito poucos aceitam que o são e não querem mudar. O
ciúme patológico e a síndrome da mulher maltratada são fenômenos associados à
presença de um misógino na família.
Terminamos com uma frase
de Bill W.; publicada em Na Opinião de Bill e retirada de Os Doze Passos e As
Doze Tradições (Págs. 282 e 47 respectivamente): “Cada vez que uma pessoa impõe
de maneira irracional seus instintos sobre outras pessoas, aparece a
infelicidade. Se a busca da riqueza faz pisar em quem estiver no caminho, então
a raiva, a inveja e a vingança serão igualmente despertados. Quando o sexo se
desenfreia há um tumulto semelhante. As exigências descabidas de atenção,
proteção e amor motivarão nas pessoas afetadas sentimentos de dominação ou de
revolta, duas emoções tão doentias como as exigências que as provocaram. Este
choque de instintos pode chegar a produzir desde um leve desprezo quanto uma
grande revolta”.
SÍNDROME DA BEBEDEIRA
SECA - SBS
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